Avsnitt
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A minha história é muito comum e ao mesmo tempo muito particular. É uma história como dos grandes romances, mas também a mesma de meninas que viviam o trabalho doméstico como um fator de transformação na minha época. Continua sendo minha história, com o meu sotaque, derrotas e, claro, as minhas vitórias.
Venho de uma família mística, étnica. Meus avós maternos foram minha referência de amor e cuidado. Vó Rosa, indígena da Tribo Tremembés de Acaraú, rezadeira, parteira, pessoa que entregou sua vida à caridade e amor ao próximo; e Vô Antônio Gabriel, filho de imigrantes italianos que vieram fugidos da Segunda Guerra Mundial, chegaram ao Ceará e foram para uma localidade batizada por Gênova, que hoje chama-se Bela Cruz.
Minha mãe Maria da Conceição Pessoa é a filha mulher mais velha, de sete irmãos. Ela, muito rebelde, engravidou aos 15 anos e foi expulsa de casa por meu avô, que não aceitava ter uma filha mãe solteira. Nessa noite, quando se viu sozinha, foi dormir no cemitério do povoado, Aranaú, distrito de Acaraú, onde mora até hoje aos seus 71 anos.
No dia seguinte, ela foi acolhida por Dona Rosa, a proprietária da pousada do povoado. Dona Rosa, era muito conhecida de todos como uma mulher corajosa, forte e decidida. Era também discriminada por ser considerada "cafetina," pois as mulheres sem amparo da família eram acolhidas por ela em seu comércio ou eram enviadas para Acaraú, Fortaleza, São Paulo. Minha mãe foi enviada para Acaraú onde foi abrigada por Dona Maria Bertold, essa sim, dona de um prostíbulo.
Assim minha mãe teve seus filhos - sou a quarta filha de clientes. Meu pai, Eudes, tirou mamãe do prostíbulo e foi viver com ela em Aranaú. Ele, porém, tinha sua esposa, duas filhas, e depois de 12 meses voltou para casa, foi visitá-las. Encontrou a esposa grávida de outro homem, e a matou. Foi preso. Minha mãe teve que se esconder, pois os irmãos da esposa de meu pai queriam matar-los, Minha tia, irmã de meu pai, conseguiu tirar mamãe do local, às pressas. Meu genitor foi morto.
Por favor, gostaria que meu nome fosse colocado junto com a história, pode ser? Francisca das Chagas Pessoa.
Minha mãe foi viver em Fortaleza por uns anos, eu e meus irmãos ficamos com meus avós. Nesse tempo eu tinha cinco anos. Ela voltou depois de um tempo, mas eram mesmo meus avós quem cuidava da gente.
Minha infância no interior foi muito especial, apesar de tudo. Fui uma criança livre sem violência. Estudava, ia para a roça com meus avós, tinha meus amigos, brincava muito, ia a praia. Adorava os festejos da igreja católica, tinha muita alegria, comida, circo, Parque de Diversões, a casa de farinha era muito bom!! Colher frutas, verduras, pescaria, lavar a roupa na lagoa. Isso mudou quando em 1986, tia foi me buscar pra ir morar com ela, em Fortaleza.
Tia morava na Praia de Iracema. Tudo era muito diferente ao que estava acostumada, as crianças com quem fiz amizade eram diferentes e para elas meus trejeitos do sertão eram motivo de piadas e risos. Eu também ria junto por não entender que as brincadeiras eram sobre mim mesma, tamanha era minha inocência, tão matuta…
Nunca tinha visto água saindo da torneira na pia, chuveiro, refrigerantes, biscoito recheado, picolé, sorvete, maçã, uva, frango assado na máquina. Imagina então um Boneco gigante na praia em desfile de carnaval? Sim, fiquei muito assustada quando vi a Banda de Iracema e o bloco Periquito da Madame passando na Avenida Beira Mar em desfile. Corria assustada para abraçar a tia aos prantos, haha... Enfim, aos poucos fui me acostumando com as novidades da capital cearense.
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Aos 53 anos seriam muitas histórias, mas deixo essa para o momento.
Em fevereiro deste 2024 conheci Carlo do mesmo modo como conheci tantos outros - por aplicativo de paquera. Mas algo naquela conversa era diferente.
Logo depois dos primeiros contatos, pediu meu número de celular, disse que ia a um passeio de Fusca e na volta me chamaria. Duvidei porque ele poderia ser como muitos que deixam suas conversas pelo caminho. Mas num domingo, às 17h30, na volta do passeio, ele mal chegou e já me chamou - “Oi, estou aqui, quer conversar?”
E longas conversas vieram.
Bastaram três dias para que ele quisesse me conhecer pessoalmente. No encontro, fui surpreendida pela beleza desse homem. 56 anos, personal, com 3% de gordura no corpo, vaidoso, músculos à mostra, muitas tatuagens, roupa e acessórios singulares. Foi gentil desde o primeiro minuto.
Me levou em um espaço diferente, um café que ficava num contêiner, todo decorado de forma diferente. Ali escolhemos um suco pra mim e um capuccino gelado pra ele. Foi uma tarde inteira de muita conversa descontraída. Apesar da imagem forte do início, ele era meigo e tímido; me fez uma flor de guardanapos, me entregou... Pagou a conta, pegou na minha mão e fomos embora de carro. E desde então não nos separamos mais.
Os dias foram passando e o sentimento aumentando. Nossa rotina se ajustou tanto, era tão perfeita em tão pouco tempo, que eu não me continha de alegria. Ficávamos grudados de sábado à noite até segunda pela manhã. Muita comida boa, passeios, filmes e muito tempo juntos... Demonstração de amor, cuidado, sexo maravilhoso… Quarta e quinta tudo se repetia. Às sextas, era dia dele cuidar da sua filha de 14 anos, então não nos víamos.
Dois meses se passaram como se fossem anos. Coisas que não se explicam, mas se sente com muita intensidade! Durante a Semana Santa, passamos o Sábado de Aleluia juntos, no Domingo de Páscoa trocamos chocolates... Depois do almoço, mais abraços, grudados um no outro.
Segunda pela manhã, como de costume, ele me deixou em casa. Dentro do carro me abraçou, beijou, eu olhei para ele e de repente, de forma completamente inesperada, me veio no pensamento ACABOU. Era a coisa mais absurda que poderia pensar naquele momento perfeito.
Nós nos despedimos, combinamos de nos falar depois.
Em casa, entrei em surto... Pensei mil coisas. Até ciúmes da filha, medo de ele terminar comigo... Coisas que até então nunca tinha pensado. Sem pensar muito peguei o celular e escrevi muitas coisas, questionamentos sem fundamento para um encontro de dois meses, cobrei coisas que não tinham sentido.
Ele respondeu que precisava ficar em silêncio e digerir minhas palavras. Fui abatida pelo incerto. E o silêncio durou uma eternidade.
Domingo era aniversário da minha neta, em uma chácara, e minha família estaria lá. Ele e a filha também deveriam ir, mas nada dele responder minhas mensagens e ligações. Com a
correria do aniversário, almoço, bolo, docinhos, só pude sentir a angústia do sumiço.
No caminho para casa resolvi tentar mais uma vez ligar para ele. Peguei o celular e meu mundo veio abaixo. A foto do status, do celular, e também insta e face... Em todas as redes, uma imagem com os dizeres “Ato de despedida de Carlo Vinícius Andreatta…” Velório e sepultamento no mesmo lugar…
Enlouqueci, quis descer do carro, um abismo se abriu, eu não queria acreditar no que estava lendo. Minha mãe e filho precisaram me acalmar... Eu não conseguia entender o que estava acontecendo… Carlo morreu? Como? Quando? De que?
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Saknas det avsnitt?
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Há cerca de cinco anos, minha mãe sofreu seu primeiro AVC (Acidente Vascular Cerebral Isquêmico), que comprometeu sua função cognitiva. Após esse episódio, ocorreram alguns AVCs transitórios. Como consequência, ela desenvolveu Demência Vascular, cujos sintomas são semelhantes aos do Alzheimer.
Passei por quase todos os processos de enfrentamento de algo extremamente doloroso e difícil de aceitar: negação, revolta, profunda tristeza e, por fim, aceitação. Pulei a fase da barganha, que seria a segunda nessa lista. Minha relação com Deus não admite barganhas; tudo o que acontece tem um propósito.
Mas, para mim, conviver com essa nova realidade tem sido complicado. Lidar com a confusão mental dela, as constantes mudanças de humor e o fato de ela não reconhecer a casa, as coisas e até as pessoas é muito desafiador. O que mais dói, porém, é vê-la sofrer como se estivesse vivenciando a morte de sua mãe, pai e irmãos, repetidamente experimentando a angústia do luto.
Enquanto isso, sinto como se estivesse em luto por uma mãe que ainda vive. Às vezes, chego a sentir saudades dela. Nesses momentos, me agarro à ilusão de que, se eu gritar “mãe, aqui é sua filha”, ela olhará para mim com aquele olhar amoroso, aquecendo meu coração com seu abraço, permitindo que eu chore em seu colo enquanto acaricia meu cabelo. Escuto-a dizendo que tudo vai passar, que continuará comigo e que nunca esquecerá de mim.
O ser humano é extremamente carente de amor; afinal, em nossa essência, somos feitos de amor. Diante da minha imperfeição, sofro quando, às vezes, ela não me reconhece como filha, me privando do seu amor. Resta-me pedir a Deus que permita que ela passe mais tempo aqui comigo e que eu nunca perca a esperança de ver sua lucidez voltar, mesmo que entre delírios e alucinações.
O dia a dia com ela é bastante desgastante. Quando chega a noite, sinto como se tivesse participado de uma maratona. Não tenho muito apoio dos familiares, inclusive dos meus outros três irmãos. Uma irmã tem Parkinson precoce (eu também tenho), a outra não ajuda porque diz que também é doente, e meu irmão afirma que não tem tempo. Recentemente, contratei uma pessoa para me ajudar com as atividades de casa, pois não estava mais aguentando fazer tudo sozinha.
Durante o dia, minha mãe tem episódios de lucidez, mas, na maior parte do tempo, ela fica desconectada da realidade. Isso traz delírios, alucinações e até agressividade. Ela puxa meus cabelos, arranha meus braços... Mas não sinto raiva quando isso acontece, pois sei que não é ela que age assim. Minha mãe nunca faria isso; ela nunca bateu em nenhum dos filhos.
A respeito da minha infância e adolescência, essa é uma outra história que pretendo contar posteriormente, se vocês permitirem. Quando divulgarem, acredito que alguém irá lacrimejar. Não é uma história bonita, mas garanto que é verdadeira.
Hoje, ao olhar para minha mãe, percebo um olhar vazio, como se a alegria de viver estivesse se extinguindo para sempre. Nos momentos em que ela se desconecta da realidade, costumo dizer que ela vai para outra órbita ou planeta. Mas quase todas as noites, quando vai dormir, ela retorna desse lugar para me dar a bênção: “Deus te abençoe, minha filha”, ela diz. Para mim, isso soa como um bálsamo que aquece minha alma. É nesse momento que escuto a voz de Deus dizendo: “Filha, não se preocupe, estou cuidando de vocês.” Aí, consigo adormecer sentindo o imenso amor de Deus por mim.
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Se você não trabalha, vai fazer uma unha, limpar uma casa, vai construir teu império. É sempre nisso que eu penso quando vejo as mulheres que estão passando pelo que eu passei. Na minha história, a violência não apareceu em forma física, nem de imediato, levou 12 anos pra que o meu então marido começasse um comportamento tóxico. Foi por essa época também que eu comecei a ter dúvidas quanto ao casamento.
Na minha adolescência, meu pai casou de novo com uma mulher que era… muito ruim. Não sei definir de outro jeito. Não sei o que ela queria, se marcar território com o meu pai ou algo assim, mas ela mentia e nos fazia mal - éramos três irmãs. Não nos dava comida, jogava comida fora, quando eu contava pro meu pai ele não acreditava e ela sustentava a mentira.
Ele era um homem bruto, durão, sempre indiferente ao nosso dia a dia. Quando fiz 17 anos, conheci um rapaz por quem eu me apaixonei. E era recíproco. Ele então foi até a nossa casa me pedir em namoro para o meu pai, que nunca nos deixava levar ninguém. Aceitou. Em meu coração, moravam a paixão e a vontade de sair de casa. Não deu outra: engravidei.
A gravidez exigiu o casamento e durante 12 anos desse casamento eu tive uma vida tranquila. Eu não questionava quase nada porque não sabia que podia, imaginava que era pra ser assim - eu cuidava da casa, das crianças, ele trabalhava fora. A família dele toda funcionava assim, todos eram muito legais, mas não se levantava nenhuma dúvida sobre nada.
Ao fim desses 12 anos o jogo virou, tudo passou a ser diferente. Ele saiu do banco onde trabalhava, se frustrou com a rotina, com o que imaginava que era sua carreira. Não sabia fazer mais nada e ficou em casa. Eu, então, comecei a cumprir horário como massagista.
Então imagina o antes: eu em casa com as crianças e os serviços domésticos - de limpeza, cozinha e cuidado. Café da manhã, almoço e jantar sempre prontos. Sem salário. Ele no banco, também com as muitas atividades que o emprego exigia, mas sendo remunerado por isso.
E agora o depois: um homem desempregado, com depressão, deitado o dia todo. E uma mulher pegando condução, trabalhando, recebendo a remuneração necessária para pagar as contas e… trabalhando também em casa. Tripla jornada, cansativa, injusta. Já seria suficientemente ruim se não fossem os ataques silenciosos para acabar de vez com o que poderia ser ainda um bom casamento: quando eu ia dormir, ele acordava. Ligava a televisão, começava a bater martelo. Não existia mais nenhuma paz.
A gota d'água que fez clarear e transbordar a minha decisão de sair dali foi quando uma das minhas irmãs (nós somos muito ligadas) me disse: “olha, presta atenção que esse homem não tem depressão nenhuma. Quando você sai pra trabalhar ele vai passear de carro, vai pra churrasco, vai tomar cerveja no bairro”. E aí eu dei um basta e fui descobrir a mulher que eu era.
Planejei sem avisar ninguém: fui atrás de um lugar pra mim. Eu queria fugir e encontrei uma casinha muito boa, de uma senhorinha que gostou de mim e topou esperar uma semana para que eu pudesse pagar o primeiro aluguel.
Enquanto fazia o meu plano de fuga, conversei com as minhas irmãs, que me deram muito apoio, e a irmã dele, que me questionou a decisão. Mas eu finquei pé. Quando falei com os meus filhos, também recebi todo o suporte. Eles até disseram: “você tá fazendo o certo, mãe, essa vida que você leva não é vida”.
Então, em um dia que ele foi ao médico eu simplesmente fui embora. Levei minha mala comigo, entrei no carro e fui, deixando todo o resto. Móveis, dinheiro, tudo. Me despedi dos meus filhos, e fui.
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A história que vou contar começa aos meus 24 anos, quando conheci meu futuro marido. O romance avança rapidamente. O casamento veio quatro anos depois, e nós nos mudamos para uma nova cidade, onde ele tem uma loja de calçados e confecções. Eu, que sempre tive uma paixão pela educação, arranjo um emprego como professora em um colégio local e, mais tarde, em uma escola em um município vizinho. A vida parecia promissora, com todas as coisas em seu lugar.
Mas as dúvidas e os problemas estavam ali, à espreita. No dia a dia, ele começa a demonstrar uma grosseria crescente em palavras e atitudes. Eu continuo apaixonada, pensando que esses momentos eram típicos de qualquer relacionamento, com seus altos e baixos. O amor faz silenciar minhas inquietações e seguir em frente, tolerando comportamentos que, mais tarde, revelariam ser sinais de um padrão abusivo.
Quando nossa filha nasce, decido me dedicar à família. Para isso, peço exoneração de um dos empregos. Em compensação, passo a trabalhar na loja do marido e, apesar das minhas preocupações pessoais, me entrego à tarefa de dona de casa e da loja, de corpo e alma. E então, logo depois, decidimos expandir o negócio, comprando um terreno vizinho para aumentar a loja.
A rotina se intensifica: durante o dia na loja e à noite na escola. É um ciclo cansativo, mas a ideia de dar uma vida melhor à filha me motiva. Mesmo com o desgaste, me sinto realizada.
Aos dois anos da pequena, vem a escolinha e eu me vejo com mais tempo para correr atrás dos meus sonhos. Ufa! Vou poder cursar Direito, coisa nunca permitida pelas circunstâncias. Agora, com o apoio do marido, eu podia me matricular na faculdade… Mas, que apoio? Ora, ele não demonstra nenhuma simpatia pelos meus projetos. Ao contrário: ele afirma que a relação não sobreviverá a essa decisão. Estupefata, eu ignoro os avisos e me matriculo, decidida a pagar a mensalidade com o salário de professora.
Os dias se tornam cada vez mais corridos, com criança, faculdade e loja, e eu preciso fazer um grande malabarismo para dar conta de tudo! As aulas da faculdade são em outra cidade, 50 km de distância a serem percorridos, e a única ajuda dele tem sido com o transporte. Me organizo para que a rotina da filha não seja afetada e, em meio a provas e trabalhos, consigo um estágio no fórum. Vitória! Essa oportunidade é uma válvula de escape, permitindo que eu ganhe experiência prática, embora não seja remunerado. O trabalho tinha se tornado uma paixão!
Infelizmente, a alegria logo se transforma em uma fonte de tensão. O marido pressiona, alegando que não estou dando atenção suficiente à filha e que o estágio só gera brigas. Sim, o estágio. Não ele, com a falta de parceria. Minha vitória se transforma em derrota e eu saio desse trabalho, continuando meus estudos em casa. Não uma derrota completa: continuo achando que é uma fase, e que, uma vez formada, tudo se resolverá.
O tempo avança, e o desejo de ter outro filho começa a surgir. Um sonho se choca com outro e eu percebo que preciso esperar a conclusão do curso. E eis que os dois desejos se realizam: a defesa do TCC acontece com a barriga já crescendo. O problema continua sendo ele, que não vai à defesa de teste nem à colação de grau. Quem perde é a minha paixão por ele, que vai diminuindo. Na mesma proporção, sabe o que cresce? Meu amor pelas minhas conquistas.
Vocês sabem que todo mundo que faz o curso de Direito precisa de aprovação da Ordem dos Advogados do Brasil para advogar. Sem essa carteira, a pessoa que concluiu o curso é bacharel em Direito, não é advogada ainda. É um momento único em nossa carreira e uma grande conquista. ... O que ele diz? “Você não vai passar, não adianta”.
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Tenho 42 anos, sou mãe de dois - uma de 24 e um de 5 anos. Tive um relacionamento com um rapaz mais novo durante 14 anos, 10 morando juntos - o menino de 5 anos é dele, uma paixão, a desses dois! Ele trabalhava demais, mas fora isso não tínhamos grandes problemas. O emprego fixo ele complementava com uma renda extra. Vivíamos bem até que veio o sonho de ter um apartamento próprio. Eu tinha muito receio mas dei uma força, conseguimos financiar.
Esse passo parece ter sido maior que as nossas pernas e com a angústia vieram as drogas. Com as drogas, as brigas, as dívidas e muitos desentendimentos. No dia a dia, ele me consumia de tanta cobrança. Ele ficava com as contas maiores, eu ficava com despesas menores e a presença com a criança para festas e passeios, já que ele estava sempre muito ocupado com o trabalho. Eu queria a separação, mas ele achava que conseguiríamos superar.
Em agosto de 2023, no dia dos pais, fizemos um almoço. Lembro que ele comeu muito, era panqueca, e foi trabalhar. Nunca imaginaria que fosse a última vez, o último almoço, o último abraço... À noite nos falamos por telefone e na segunda já não apareceu. Surtou uma semana gastando todo dinheiro na rua. Já não me atendia, não queria falar comigo nem com nosso filho. Na segunda seguinte ele me ligou, coisa de meio dia dizendo que não tinha mais jeito, que era pra eu cuidar do nosso filho.
Não levei a sério, achei que era mais uma crise por causa da droga. Nesse dia fui trabalhar sem desconfiar que minha vida seria transformada para sempre e à noite recebi a pior notícia: ele se suicidou na casa do pai…
Estou há um ano sem conseguir entender. Me restou a dor, a saudade, as dívidas… Nos mudamos para a casa da minha mãe, que tem me dado muito apoio. Além de tudo me sinto traída… O tanto que me dediquei! Tudo que abdiquei pra ter nossas coisas! Carrego um luto ainda não vivido pois não pude parar pra sofrer, vivo no automático e ao mesmo tempo esperando que ele chegue a qualquer minuto…
Sempre tive uma relação boa com a família dele, mas isso mudou um pouco. Sou mais chegada à minha sogra, mas decidi me afastar porque fui julgada e condenada como se eu tivesse culpa. Os irmãos dele nunca me perguntaram se eu ou meu filho precisávamos de alguma coisa. Meu coração está confuso entre a solidão e a mágoa, o luto adiado, a exaustão do dia a dia. Como imaginar que meu marido ia desistir de viver?
Ele jamais tinha me deixado sozinha.
Mas eu decidi viver e terminar o que ele deixou pendente. Decidi não desistir de mim, com muito esforço ano que vem termino minha faculdade de pedagogia, hoje já trabalho na área. A vida me trouxe muito sofrimento e muitas perdas, mas pelos meus filhos eu me levanto todos os dias. Não consigo imaginar uma superação, mas eu espero um dia voltar a ser feliz.
Se eu pudesse falar bem alto eu diria para as pessoas aproveitarem cada minuto com quem se ama e procurarem ajuda quando a dor é grande demais. Ninguém precisa sofrer sozinho. Eu tive que aprender a ser forte na marra, e hoje agradeço por estar aqui.
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Em nosso primeiro contato ele já foi ríspido. No restaurante, pedi uma cadeira e ele, de forma grosseira, respondeu: “pode pegar, é pra sentar mesmo”. Mal sabia eu que esse seria o cenário dos próximos cinco anos.
Os primeiros contatos vieram pelo Facebook, logo depois fomos para o whatsapp e rapidamente começou um namoro. Que foi pesado, desde o início. Ele era viúvo, com dois filhos e eu era 25 anos mais nova. Você pode se perguntar: por que eu me envolvi com ele? Eu, aos 24, com um filho não planejado de três anos, tinha parado a faculdade que era o meu sonho, não esperava grande coisa na vida.
Me sentia um fracasso e acreditava que não podia piorar. Ah, mas eu estava enganada. Casei com quatro meses de namoro e fui para o castelo de horror. Começaram os julgamentos, os empurrões, estupros, chacoalhões no meu filho, manipulação psicológica. Com um ano de casada descobri que ele conversava com mulheres, porém colocava o nome de outro homem pra eu não descobrir.
Eu quis sumir, mas fiquei. Mudamos de cidade, fui fazer faculdade, ele quis me fazer desistir, e eu continuei. Ele proibia que eu trabalhasse e ao mesmo tempo não me dava o que eu queria, só o que ele achava que era necessário. Comecei a responder aos abusos e perseguições, até que um dia eu me cansei de ouvir que ele iria me matar e planejei minha saída.
Bem, não foi tão planejada assim. Éramos líderes da igreja, então isso me perturbava. Como os irmãos da igreja veriam isso? Numa de nossas discussões ele pediu o divórcio e foi pra casa da mãe. Eu fui embora, mas acabei voltando porque ele insistiu que Deus não aprovava o divórcio. Foi só colocar os pés no castelo de horror que eu tive uma crise de ansiedade. Decidi ir embora de vez, pra nunca mais voltar. Hoje sou feliz, só eu e meu filho.
Esses foram os últimos abusos que passei na vida. Não quero mais. Decidi romper com esse ciclo de violência que começou com uma infância complicada. Não fui planejada e meus pais nunca viveram juntos. Minha mãe era muito nova e com cinco filhos não conseguiu cuidar de todo mundo; por vezes nos deixava sozinhos. Até que um dia aconteceu uma tragédia: a lamparina caiu no berço e matou minha irmã ainda bebê. Nós sobrevivemos a o fogo por milagre.
Aos 6 ou 7 anos eu não quis mais viver com ela, sofri abusos do meu padrasto, então juntei minhas roupas e fui viver com meus padrinhos de batismo. Assim eu cresci, sendo a filha criada - como meu padrinho dizia. Tive depressão aos 13 anos, o que foi muito duro de viver.
Estudei numa escola federal, o que me abriu portas, porém eu sofria porque não sabia reagir a tudo que sentia… Também não soube lidar quando, aos 20 anos, me envolvi com um homem manipulador, que não queria que eu estudasse. Quando soube que eu estava grávida, ele me seguia pela cidade e até a igreja que eu frequentava ele ia mesmo não sendo convidado.
Fez inúmeros boletins de ocorrência e denúncias ao conselho tutelar dizendo que eu queria abortar. Quando o meu filho nasceu, foram acusações de maus tratos. Atualmente ele me processa, porque deseja a guarda, não fala comigo e se peço ajuda ele me trata mal. Ele auxilia apenas com a pensão muito pouca, e fica com meu filho nas férias.
Hoje, honestamente, não tenho interesse afetivo sexual por ninguém, tenho receio de relacionamentos e sinto que perdi muito tempo. Sempre sonhei em passar em um concurso e ter estabilidade financeira, acredito que é a isso que quero me dedicar agora. Fazer a vida ser minha, de mais ninguém, de nenhum abusador. Tenho muito pouco em bens materiais, mas tenho a mim novamente. Se eu pudesse voltar, eu falaria para aquela mulher, jovem e imatura: você está aí dentro, acredite em você, esse pesadelo vai acabar e você será livre.
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O que tenho para compartilhar é um relato recente escrito entre lágrimas.
Sou uma mulher de 50 anos, trabalho como autônoma e crio meu filho de 11 anos sozinha. Me separei do pai dele quando ele tinha 4 anos. Meu filho apresenta traços de autismo. Nós nos damos bem em nosso cotidiano, é um menino maravilhoso.
Por causa dele, comecei a trabalhar em casa, servindo pensões mensais e refeições. Moramos apenas nós dois. Para o trabalho que faço, preciso de colaboradores, ou seja, ajudantes e entregadores.
Há cerca de dois anos, resolvi contratar um parente muito próximo, para a função de entregador. Sempre nos respeitamos como irmãos. Tudo ia bem. Éramos três: eu, ele e uma moça que me ajudava na cozinha. Aos domingos, no final do expediente, dividíamos uma cerveja, já que a segunda-feira era nosso dia de folga. Compartilhávamos tudo entre nós três, desde os lucros até os segredos. Éramos uma equipe.
Em março deste ano, a moça saiu porque encontrou algo melhor. Ficamos felizes por ela, e eu decidi não contratar outra pessoa para seu lugar, já que ela estava comigo há quase seis anos. Ficamos apenas eu e meu parente.
Nem tanto tempo havia passado, e já notava traços autoritários nele. Não atendia aos meus pedidos como antes e queria folgar dois dias na semana. Discutimos sobre isso e eu expliquei que não era possível para mim. Comecei a me sentir como se estivesse trabalhando para ele, e não o contrário. Expliquei que não poderia ficar sem entregador aos domingos.
Ele concordou em trabalhar aos domingos, mas disse que eu precisava falar com ele de maneira adequada. Que maneira seria essa? Eu era a mesma.
Mas eu já estava decidida a fazer mudanças mais radicais e dispensei os serviços dele. Antes de sair, ele pediu para que eu pensasse melhor. Os dias passaram, e eu consegui encontrar outro entregador. Embora ele falasse normalmente comigo, percebi que não gostou da mudança. Depois disso, veio durante o dia, tomou um café meio sem graça e foi embora. Não o vi mais por 10 dias.
Num domingo, após terminar minhas tarefas, fiz toda a limpeza, pedi uma pizza para meu filho e abri uma cerveja, como é meu hábito no final de domingo. Deixei o portão aberto aguardando a pizza e me distraí com o celular e a cerveja, quando ouvi meu primo entrando e chamando pelo meu sobrenome, como sempre fazia. Ele estava visivelmente alterado, parecia ter bebido bastante. Cumprimentei, ofereci um copo e perguntei de onde ele estava vindo e onde havia bebido. Ele respondeu que tinha vindo de casa.
A pizza chegou, dei um pedaço a ele, servi meu filho e fui para a área. Notei que ele tentava me tocar enquanto conversava e eu pedi para que ele conversasse sem encostar em mim. Ele alegou que estava passando mal, eu disse que fosse para casa, pois não queria que me desse trabalho. Ele riu e disse que estava brincando. Continuamos a conversar sobre coisas triviais, e ele foi ao banheiro da área várias vezes, o que achei normal, considerando que parecia ter bebido bastante.
Tal momento ele fingiu que estava chorando, dizendo que todo mundo o abandonava. Eu disse que, embora não trabalhássemos mais juntos, ainda podia vir de vez em quando para conversar ou tomar um café. No entanto, ele continuava tentando se aproximar e eu me esquivava.
Desconfiei de suas intenções e tentei gravar um vídeo. Coloquei o celular no colo e liguei a câmera, mas ele se movia muito. Então coloquei uma cadeira do outro lado da mesa e pedi que ele se sentasse afastado. Ele desconfiou e perguntou se eu estava gravando, eu disse que não e mostrei o celular desligado.
Foi então que me senti realmente em perigo. Ele se aproximou de mim com os olhos arregalados e expressão fechada, sem dizer uma palavra.
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Esse espaço é seguro, não é? Posso falar o que precisa ser dito? Tenho pensamentos muito fortes e no momento em que eu soube que o marido que eu tinha, pai dos meus filhos, era pedófilo e se insinuou para as nossas filhas, eu quis matar esse homem.
Me separei por causa disso. Se ficasse com ele, faria alguma coisa e eu poderia ser presa. Quem iria cuidar dos quatro? Ser mãe é uma tarefa e eu quero desempenhá-la da melhor forma possível.
Desde pequenos, conversava com eles sobre drogas, colocando medo e falando que mesmo a maconha pode ser veneno porque a pessoa pode ter alergia e até experimentar poderia ser fatal (não cheguei a checar a informação, mas eu queria mesmo era assustar!). Diante do que vivi, ensinei a não confiar no ser humano, nem em pai, nem em mãe, só em Deus, que é o verdadeiro amor. Ensinei que os filhos são emprestados para a mãe cuidar até que eles saibam andar com as próprias pernas.
Mas deixa eu contar como cheguei aqui. Comecei a namorar esse futuro marido aos 16 anos. Até os 26 já tínhamos dois filhos. Foi um pouco antes de completar 26 que começamos a frequentar a igreja e lá fomos orientados a casar. E assim fizemos. Depois vieram mais duas crianças e a vida estava relativamente tranquila. Ele ganhava um bom dinheiro que nos sustentava, eu administrava a casa e as crianças. Nessa época, a responsabilidade de tudo, absolutamente tudo, era minha. Pra mim, tudo bem, gostava de cuidar da casa e dos filhos.
A mais velha começou a namorar e o pai ficou furioso. Foi aí que começou a transformação.
Ele se afastou da igreja e voltou a beber, fumar e usar drogas. Quando começamos a namorar, ele praticava fisiculturismo e tomava bomba. Entre as sequelas, a pior era a irritabilidade. Era impossível sair com ele, sempre passava vergonha por suas grosserias. Não sou santa nem quero me vitimizar, só estou dando a minha versão. Nos eventos da empresa, ele levava apenas os filhos. Eu só participava de eventos familiares, mercado, feira e Igreja.
A minha filha mais velha começou a namorar por volta dos 13, 14 anos e ele me bateu. A partir daí, não quis mais ter relação com ele. Ele contou pras tias dele e elas vieram me aconselhar já que na Igreja o casamento é "até que a morte nos separe". Quando contei que ele me agrediu, elas me deram apoio.
Continuei casada, sem saber o que ia acontecer. Pedia a Deus me livrar dele. Num dia, minha filha, já maior de idade, chegou vomitando. Eu já estava dormindo. Ele pediu pra eu cuidar dela, eu disse que não, porque ela tinha bebido. Começou uma discussão e ela no fervor da briga disse que odiava o pai porque ele acariciou os seios dela enquanto ela dormia. A outra mais nova disse que ele dava dinheiro pra ela desfilar nua.
Eu não sabia o que fazer. Várias vezes o flagrei dormindo sem roupa pela casa, mas como ele bebia, não imaginava tal coisa. Fiquei sem chão, tinha que manter a calma porque se eu fizesse o que queria, ia ser presa e os meus filhos precisavam de mim. Com vergonha de contar pra polícia e pros parentes, me fechei. Falei que era segredo, mas só Deus sabe como eu estava rasgada por dentro. Até hoje dói lembrar. Vem a vontade de vomitar.
Estava com ele desde os 16 anos e me divorciei com 38. Voltei a beber, saí da Igreja porque não me senti acolhida em um momento tão delicado. Hoje entendo que não é a placa da igreja que salva, e sim Deus.
Foi um período difícil. Eu não imaginava, mas estava prestes a viver algo parecido, de novo.
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Queria começar minha história dizendo que não tenho raiva. Ao ouvir o que vou contar talvez você se esqueça disso, porque minha história é muito pesada, com muita violência e violações. Mas te peço que não se esqueça: não tenho raiva. O que tenho é vontade de que você saiba quem sou e que o que aconteceu comigo nunca mais aconteça com nenhuma outra criança.
Pedi para a Mayra abrir uma exceção e divulgar o meu nome. Eu sou Maria Lucimar Gonçalves, mais conhecida como Mazinha. Nasci em Jardim, uma cidade do extremo sul do Ceará, na região do Cariri, no ano de 1980. Tem uma matéria sobre mim no G1 de Presidente Prudente, cidade onde moro desde a adolescência.
Meu nascimento foi a previsão de como seria minha vida. Grávida de sete meses, minha mãe foi espancada pelo meu pai. Uma cena cotidiana lá em casa. Quando eu e minha irmã fechávamos as janelas, a mãe abria as portas da casa e dizia pros vizinhos: “é cinema, pode ver, é de graça”. Todos da rua sabiam, ninguém da família ignorava a situação.
Ainda assim eu tenho boas memórias dele, meu pai violento e agressivo. Ele me ensinou a dançar. Não sei se ele tinha alguma deficiência ou se era só escroto. Ao longo da minha infância, passamos muita dificuldade, com frequência faltava comida em casa. Eu sempre tinha fome.
Por causa dessa fome eu aceitei ir passear de carro com um amigo do meu pai. Aceitei que ele passasse a mão em mim, que ele fizesse o que quisesse. Ele tinha me prometido comida, mas não entregou. Eu fiquei com muita vergonha. Até meus 30 anos eu tinha vergonha disso, de ter sido enganada. Achava que a culpa era minha.
Por muitos anos, a minha infância e adolescência foram assim. Aceitei que me tocassem em troca de comida e de promessas de uma vida melhor. Muitas vezes fui enganada. Eu era só uma criança.
Por causa dessa pobreza e dificuldade, fui entregue pela mãe e pelo pai para a minha avó paterna. Os abusos sexuais, lá, só aumentaram. E eram meus tios, que se revezavam para me violentar. Não sei se era um esquema deles ou se eles só vinham na hora que queriam. Foram anos assim.
Dessa vez não tinha comida, era só maldade deles. Eu aprendi que ficar parada era melhor que lutar. Quando eu ficava parada acabava mais rápido.
Um dia contei pra minha avó o que acontecia. Eu tinha 11, 12 anos. Ela me levou ao conselho tutelar. Quem nos atendeu foi um homem. Quando me ouviu, disse que eu podia ser presa porque na certa eu provoquei. Ele achava que a culpa era minha. Por eu ser uma criança alegre, muito sorridente, extrovertida, porque gostava de conversar, a culpa era minha. Minha avó concordou.
Num dia em que a família toda estava na casa dela, uma tia, casada com outro tio meu, viu um deles em cima de mim. E gritou pra família toda ouvir. Então, minha avó me mandou embora. Fiquei morando na rua. Depois eu lembro que a minha irmã acabou indo pra rua também.
Não lembro de muita coisa. E depois vem tudo de volta pra minha cabeça. Quando começo a falar, lembro. Mas nem sempre, às vezes quero lembrar e não consigo. E tem coisa que eu lembro, mas que não consigo pronunciar.
Aos 14 anos eu fui presa, me acusaram de roubo em um restaurante em que eu trabalhava. O dono desse restaurante, que era o pai de uma amiga, tinha me colocado no colo e eu lembro que foi aí que perdi a virgindade porque apareceu sangue na minha roupa. Ele prometeu casar comigo, eu sonhava em casar e ter uma casa. Mas depois ele me acusou de ter roubado umas coisas no restaurante.
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Tem dias que eu me sinto como uma usuária de drogas. Mas o que consumo não é nem cocaína, nem crack. É o olhar, o toque, as migalhas de atenção que ele me dá. Quando não nos vemos, vem a crise de abstinência, o choro, a solidão.
Na infância, minha família vivia dificuldades financeiras: meu pai era omisso em casa e minha mãe ao mesmo tempo autoritária e ausente. Éramos cinco filhos, sendo as duas mais velhas, numa diferença de 10, 12 anos, e nós, os 3 mais novos, em idades próximas.
Aos 16 anos comecei a namorar aquele que seria meu primeiro marido. O primeiro homem que me bateu e me traiu diversas vezes. Mas a casa era organizada e não passávamos fome, o que me fazia viver uma confusão em relação a isso, por não entender essa contradição. Fico ou vou embora? Tive dois filhos com ele e me libertei aos 27 anos, quando me divorciei - ele tinha engravidado uma amante. Até me casar pela segunda vez, passei fome e humilhação com esses dois filhos. Ainda bem que no segundo casamento foram 12 anos tranquilos. Mas ele, infelizmente, faleceu.
A vida então seguiu seu curso e por isso mesmo as coisas foram mudando. Os filhos foram conquistando sua autonomia, eu tinha mais tempo e mais espaço na vida, só não tinha habilidade em lidar com isso. O dia parecia ter horas demais, a casa estava sempre tão bem cuidada, parecia que nem ela precisava mais de mim. Veio então a pandemia e tudo piorou: a solidão e o sentimento de que não tinha mais função nem lugar.
Foi mais ou menos por aí que eu percebi ainda mais a presença do vizinho. Já o achava prestativo, simpático… Charmoso. Ele fazia pequenos serviços de manutenção lá em casa, com muita gentileza. Uma vez ele me surpreendeu: eu tinha ficado doente e ido ao médico. Logo depois recebi uma mensagem dele, bem atenciosa, perguntando como eu estava. E duas horas depois, quase a mesma pergunta: e aí, melhorou? Dessa vez ficamos até as 23h conversando.
Éramos vizinhos desde jovens e tínhamos muito o que trocar. Não demorou muito e eu estava apaixonada. Ele parecia estar também, mas… Era casado. Prometeu se separar e de fato isso aconteceu, seis meses depois que nos tornamos mais próximos. Saí com ele pela primeira vez depois de separado.
Enfim ficamos juntos e foi maravilhoso. Os momentos me preenchiam e não me importava que ele não tivesse dinheiro. Que no Dia dos Namorados fosse eu a comprar o jantar. Que eu sempre estivesse querendo agradar dando presentes, sapato, roupa, até eletrodomésticos para a nova casa dele, sem receber nada em troca.. Quer dizer… Dava aflição, sim, mas estar com ele devolvia toda a minha crença de que aquilo tudo era possível e era meu.
Mas essa falta de recursos virou minha vida do avesso. E um dia ele me disse que voltaria a morar com a ex pois estava em dificuldade financeira, pagando 2 aluguéis: o dele e o dela. Como disse a Maysa, a cantora, meu mundo caiu, e terminamos.
A saudade e a ausência operaram em mim um desespero que meses depois, quando ele me procurou, eu voltei feliz, mesmo que esse amor agora fosse clandestino. Dessa vez não teve como a religião me segurar, a obsessão era mais forte. E potencializada pela situação, toda controlada: os encontros, as mensagens pelo celular… Eu fiquei em segundo lugar em sua vida.
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No dia da morte dele, eu fui a única que comprou uma coroa. Se foi a compaixão que sinto por qualquer ser vivo, se foi para coroar a morte do meu primeiro abusador - meu pai - que me violentou por toda infância e adolescência, não sei.
Minha primeira lembrança de abuso aconteceu quando eu tinha seis anos. Nessa noite acordei com ele me batendo na sala. Eram muitos tapas e socos. Lembro do xixi quente na minha roupa. Só não lembro de quando parou de bater. Ele me espancava com frequência e sem motivo. Nunca entendi porque estava apanhando. Quando ele não batia, me beijava na boca, de língua. Eu paralisava, não reagia, não entendia que era abuso, sentia muito medo dele.
Morávamos no interior, numa casa de madeira antiga, sem forro. Eu tinha uma irmã e um irmão mais velho. Dormíamos juntos em uma cama de casal.
Noutra noite, meu irmão chegou correndo e disse: "o pai está vindo te pegar". Assustada, levantei e pulei a janela. Atravessei a cerca de arame que separava a casa de um pasto enorme. Corri todo o pasto, passando por cima de planta, boi dormindo, quase cai, mas cheguei do outro lado. Então segui correndo em direção ao cemitério, na rua seguinte à nossa. O muro era baixo, pulei novamente, correndo pelo corredor central, passando por uma cruz rodeada de velas.
Bem no meio do cemitério encontrei um túmulo todo de piso bege. Não havia placa, nem nomes ou datas. Parecia um travesseiro, era quentinho e sem vasos. Eu deitei em cima do túmulo, fiquei olhando o céu. No cemitério, eu estava segura, em paz no silêncio. Eu não tinha mais medo, tinha um refúgio para não apanhar do meu pai. Por várias vezes, eu ouvia minha mãe me chamar pelas ruas, mas não respondia. Quando eu sentia que ninguém mais me procurava, eu ia para casa da minha avó materna, ela já sabia o motivo, me acolhia. E assim foi a minha infância, regada de violência de todas formas, seja comigo, seja com minha mãe ou com os meus irmãos.
Na adolescência vivi um intervalo de tranquilidade, quando estava internada no convento das freiras. Cheguei lá aos 9, demorei para me adaptar. Mas quando isso aconteceu eu fiquei muito bem. Estava feliz com a rotina de oração, cuidados e estudos. As freiras gostavam de mim e eu delas. Não passava fome, como em casa. E essa vivência me sustentou por muito tempo.
Decidi, porém, sair, para ficar perto da minha mãe. Tinha então 14 anos e estava com o coração mais leve. A vida, que pena, cuidou de me lembrar como era antes disso. Numa noite de domingo, quando voltava pra casa depois de uma matinê na discoteca do bairro, fui agarrada por um rapaz e estuprada na porta de uma igreja. Ele bateu minha cabeça no chão, rasgou meu jeans até que tive a ideia de fingir náuseas. Funcionou: ele se afastou e eu corri, bati na primeira casa e fui socorrida. Foi nessa noite que perdi a virgindade.
Fui à delegacia com a minha mãe, mas o rapaz não foi preso e o irmão dele passou a me perseguir. Foi período difícil.
Próximo de completar 15 anos, conheci o pai dos meus 3 filhos. Namoramos quase 3 anos; logo depois fomos morar juntos porque eu estava grávida. Meu casamento foi um inferno. Fui agredida quando meu filho nasceu: o bebê chorava de fome e meu marido me batia por isso. Na primeira vez, recebi um murro de mão fechada no rosto e ouvido. Eu cai no chão, levantei, mas ele deu outro, então eu cai e fiquei no chão chorando. Foram 12 anos sobrevivendo a uma relação de violência, humilhação, miséria e doenças.
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Namorei meu futuro marido dos 19 aos 21 sem ter relações sexuais. Era como era naquela época: a gente precisava esperar o casamento. Mas ele pressionava por ter relações e duvidava de mim: “Você é virgem mesmo?”, ele perguntava. Até que decidi ceder. No dia seguinte a desconfiança continuou: “Nada me tira da cabeça que você não era virgem”. Fiquei dilacerada. Eu nunca tinha tido ninguém!
Cheguei em casa e decidi dar um fim à vida. Tomei muitos remédios com coca-cola. Na madrugada minha irmã me salvou: percebeu que eu estava muito mal e contou pra mãe sobre os remédios. A ambulância veio, fui pro hospital e depois da lavagem no estômago, restou o mal estar na família, o medo e a raiva. Mas mesmo assim continuei com ele e nos casamos. Eu devia estar muito apaixonada ou cega. Como foi que eu deixei isso acontecer?
As décadas seguintes foram de dependência financeira, mudança de cidades, tormentos, exploração da minha força de trabalho, assédio moral, estupro marital, assédio sexual de meninas, entre elas minha sobrinha e minha irmã, as duas menores de idade, violência psicológica... Vou contar um pouco os acontecimentos desses 42 anos de opressões.
O primeiro abuso veio com três meses de casada. Morávamos em São Paulo e numa dessas enchentes eu voltei pra casa bem depois do horário normal. Já estranhei muito porque vi os maridos e os familiares das outras mulheres esperando no ponto do ônibus, mas ele, não. Quando cheguei em casa a primeira coisa que ele disse, com muita raiva, foi: “não jantei, nem tomei café. Vai preparar”. Para em seguida me mandar escolher, ou eu ficava no casamento ou eu trabalhava. Mas... Como eu ia separar depois de três meses?
Eu nunca pensei que eu pudesse alugar uma casa, morar sozinha, sei lá, alguma coisa desse tipo. E também não queria voltar pra casa dos meus pais, eles provavelmente diriam: “Ué, já se separou?”. Resultado: saí do serviço que era muito bom, que eu gostava demais. Eu ganhava até mais do que ele. E então começou a minha dependência financeira. Precisava pedir tudo. Ele usava isso pra me chantagear, me usar e me humilhar.
Quando fiquei grávida do nosso primeiro filho, ele decidiu ir morar em Juiz de Fora, terra da mãe dele. Essa mudança aconteceu eu estava com oito meses. E lá fomos nós, pra roça. Foi o pior ano da minha vida, eu com filho pequeno e inexperiente para cuidar de criança sozinha.
Depois disso passamos uma temporada em São Paulo, mas voltamos para Minas Gerais de novo. Foi o tempo que eu mais trabalhei. Trabalhei na roça, trabalhava em casa como empregada, que naquela época, em Minas, era quase escravidão, né?, fiz serviço em obra de construção, mesmo enquanto estava grávida. E depois cuidando da mãe dele, que era diabética.
Em casa ele fazia coisas para me torturar. Entrava com sapato sujo da roça. Pedia comida no meio da noite, mas era só pra me ver levantar, quando eu esquentava ele não queria mais. Pedia café quando eu sentava pra ver televisão. Pedia tudo, não fazia nada.
De tanto eu ser rejeitada eu comecei a ter nojo e a não querer mais. Quando acontecia, era... Eu ficava com uma raiva, já ia logo tomar banho, não gostava. Ele começou a falar que parecia que eu gostava era de mulher.
Comecei a ter crises de labirintite e desenvolvi uma doença autoimune. Me isolei de todo mundo. Eu não tinha amigos, não saía. Fiquei mais de três anos sem visitar os meus pais. Mas até a crise explodir, foram muitos anos.
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Fui adotada por uma família composta por pai, mãe e quatro irmãos.
Aos 2 anos, meu pai foi embora e nunca mais voltou, nem procurou nenhum dos filhos. O tempo passou e, aos 13 anos, fiquei sabendo por uma vizinha sobre a minha adoção e a minha mãe adotiva apenas confirmou.
Comecei a entender as palavras agressivas, a rejeição e até o amor sufocante que eu recebia.
Em um momento de raiva, minha mãe contou que foi levar almoço para o marido e o ouviu falando com uma voz feminina que o pressionava: "Se você não largar a sua mulher, eu pego a menina de volta".
Ele respondeu: "Mas ela já pegou amor na menina" - a menina era eu.
Soube depois que nesse momento a minha mãe adotiva fez as malas dele e o mandou embora. Ou seja, o meu pai adotivo era também o biológico e muito provavelmente sou filha da amante, que me deu para ser adotada pela família dele.
Aí começou o meu pesadelo. Fiquei sem rumo, com três irmãos e uma irmã que me culpavam pelo pai não vir vê-los. Eles não sabiam da suposição de que a amante era a minha mãe biológica.
Fui abusada e não sei por qual dos três meninos.
Eu vivia machucada e, aos 14 anos, fugia para a rua, voltando para dormir quando não estavam. Minha mãe me escondia embaixo da cama para eles não me verem.
Engravidei aos 18 anos, sem poder lembrar quem era o pai. Tive mais um filho nessa situação, também por abuso. Eu bloqueei essas lembranças.
Tenho aversão a um deles, fiz terapia durante 20 anos e preferi não querer saber, somente me afastar. Sempre ach ei difícil de entender como a minha mãe adotiva aceitou muito bem as duas vezes em que fiquei grávida.
Nesse período, passei por internações em hospitais psiquiátricos.
Os meus filhos sabem das internações, pois iam me visitar no hospital, mas nunca falei dos abusos.
Aos 14 anos, conheci Anjo, um namoradinho. Minha família não aceitou e nunca mais o vi. Mais tarde, consegui trabalho e segui morando com minha mãe e meus dois filhos.
Conheci então um outro rapaz que dizia me amar e engravidei novamente. Fui diagnosticada com transtorno bipolar e tive episódios maníaco-agressivos, passando por muitas internações.
O pior ainda estava por vir: meu companheiro e uma amiga decidiram ficar com minha filha recém-nascida - a minha terceira.
Entrei em crise novamente, mas Deus me guiou e me ajudou a contar a verdade sobre o nascimento dela. Precisei provar a minha lucidez perante a lei e, em três meses, consegui ter minha filha de volta aos meus braços.
Em 1998, reencontrei Anjo.
Minha filha caçula havia caído e quebrado metade do dente. Saí correndo e quase fomos atropelados por uma perua. A partir daquele momento, Anjo se tornou o meu protetor: cuidou de mim e dos meus filhos.
Eu tinha 28 anos e ele 33. Ele nunca havia se casado nem tido filhos. Disse que sempre me procurou, mas não me encontrou, pois não tínhamos celulares ou redes sociais na época.
Fui retornando à vida, ao trabalho e me fortalecendo. Parei de tomar remédios, até mesmo para dor de cabeça. Chegaram a conclusão de que eu não era bipolar, e sim vítima de vários diagnósticos errados.
Meu pai adotivo morreu sem que eu soubesse se aquela versão da história era verdadeira. Eu também nunca soube o nome da amante que se tornou sua esposa.
Quando o meu pai faleceu, a minha mãe foi chamada para receber pensão, que ficou para a esposa e para a mãe dos filhos. Ela aproveitou e levou o meu RG e perguntou para a funcionária se tinha visto a foto da outra que receberia a pensão também. A funcionária ficou em choque, tamanha a semelhança, e disse: “não mexa nesse vespeiro”!
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Aos 16 anos conheci alguém por quem me apaixonei. Eu sentia por ele algo que jamais voltei a sentir, até porque aquilo não era normal.
Depois de um ano e meio de namoro eu engravidei e d ecidi ir morar com ele. Então cometi um erro comum das mulheres na minha situação: parei de trabalhar. Nessa época eu tinha 17 anos, mas me sentia madura.
Tive uma gestação difícil, marcada pela escassez financeira e por enjôos constantes, que duraram até o dia do parto. No dia 31, réveillon de 1991, ganhei uma filha linda. No início da sua vida, ela apresentou um problema cardíaco, e foi preciso fazer 2 cirurgias, além de 3 anos de cuidados e tratamentos. Hoje ela está bem, e já me deu um netinho.
Tive mais um menino, que mostrou alterações desde bebê e só fui descobrir sua esquizofrenia aos 9 anos, sem que o pai tivesse tido o trabalho de mencionar que era uma doença que ele, pai e irmão também tem.
Mas a pior parte foi o meu relacionamento de casal.
Ele era muito trabalhador e logo encontrou um trabalho que lhe rendia altos ganhos, que usava para pagar prostitutas de 12 a 13 anos.
Ele gastou muito do que ganhava em boates, para ver amigos com mulheres, porque não tinha ereção. É vergonhoso pra mim, mas uma vez fui até uma boate para ver se era verdade o que ele contava. Foi aí que comecei a acreditar nas coisas que ele me dizia.
No início procurei entender e ajudá-lo e então perguntava coisas sobre a infância dele. Ele foi abusado por um homem no sítio onde morava. Na adolescência estudou em seminário e disse que lá houveram abusos também. Ele tem raiva de meninos, deve ser por isso.
Nunca tivemos uma vida sexual ativa. Raramente tínhamos relações sexuais e ele dizia que só sentia vontade forçando pessoas indefesas e inexperientes: exatamente o que eu era quando o conheci. A história dele pode ser triste, mas penso que nada justifica.
Ele me fez conhecer mulheres, dar recados e queria até que eu levasse garotas da escola para ele em casa. Ele me fazia aceitar a humilhação de ajudá-lo a me trair com meninas, em troca de uma vida financeira que proporcionava a mim e aos meus filhos.
Ele dizia que podia me contar tudo porque eu era a sua melhor amiga, que o entendia e o amava e assim me contava tudo o que se passava na sua mente. Ele confessou até que tinha vontade de abusar das filhas da vizinha. Dizia que tinha vontade de pegar meninas e jogar no mato para estuprar, mas que não realizava a vontade por medo de ser preso. Ele chegou a me pedir para que meus filhos não trouxessem crianças para brincar em casa.
Quando saia pra encontros, tudo ele me falava, parecia uma faca me cortando por dentro. Eu vomitava, chorava e quase enlouqueci nessa época. Eu não entendia o que estava acontecendo comigo. Emagrecia dia a dia e fiquei dois anos sem dormir, até que comecei a tomar remédios. Separamos algumas vezes de casa, mas ele sempre voltava, dizendo que iria mudar. Eu, pensando nos meu filhos, acabava aceitando.
Hoje sei que nunca foi amor.
Se eu pudesse fazer diferente, teria abandonado ele no primeiro dia que soube dessas coisas. Eu perdi 13 anos com ele.
Descobri no meu marido um mostro, psicopata e pedófilo quando eu nem sabia o significado dessas palavras.
Segui convivendo com ele para tentar mudar a situação: por medo, fraqueza e vergonha, mas de nada adiantou.
Eu fiquei depressiva. Por muito tempo, sentia vergonha ao pensar que as pessoas saberiam, pois até então, aos olhos dos outros éramos um casal perfeito.
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Enquanto criança eu não tinha noção de como eram difíceis aqueles tempos, e nem de que vivia de perto a pobreza.
As minhas recordações vem desde os 3 anos de idade. Eu morava em sítios - no plural - pois os meus pais se mudavam constantemente.
Recordo da minha primeira casa, de chão batido, que tinha um riacho perto, onde eu brincava durante o verão.
Levávamos nosso almoço na roça, eu e a minha mãe. Subíamos por uma trilha, até o topo do morro, onde estava a plantação de feijão.
Às vezes derrubavam árvores ou faziam queimadas, e eu juntava galhos para limpar a terra. Não recordo de ter visto uma cidade, nem se quer um vilarejo e não imaginava outro mundo além daquele lugar.
Logo já era outro sítio, de plantação de algodão, e tinha vizinhos e crianças para brincar. O trabalho não era fácil.
Com 7 anos eu sabia que deveria estudar, e era o meu sonho, já que os meus irmãos já estavam na escola. Mas eu não fui, e foi triste demais.
Minha mãe disse que eu tinha que trabalhar, que mulher não precisava de estudos e sim aprender a cuidar da casa e trabalhar na roça.
Fiquei com muita raiva dela, mas a minha vida seguiu entre bolinhas de gude com meus irmãos, brincadeiras de casinha, criação de bonecas de pano e caça de passarinhos com estilingue.
Quando chovia eu tomava banhos de chuva e brincava nas enxurradas.
Lá tinha mina d'água, onde eu buscava com balde pra cozinhar, beber e tomar banho. Eu achava injusto as mulheres irem buscar água ao voltar da roça, enquanto os homens iam descansar.
Eu não podia brincar com meninos, mas mesmo assim brincava, e quase sempre apanhava por isso. Fui uma criança bem agitada e queria sempre aprender coisas novas. Além das brincadeiras “de menina” eu andava a cavalo e brincava de bola - aliás eu era a goleira do time dos meninos.
Eu ia além do que me era determinado, e mesmo sabendo das consequências, eu fazia. Fui resistente ao sistema, o que irritava a minha mãe, e então ela me batia.
Nessa época eu sentia que ela não gostava de mim, e me penalizava por isso.
Por muito tempo procurei entender as razões dela e hoje imagino que me batia porque não tinha a minha força emocional, capaz de se levantar contra o que era imposto.
Outro ano chegou e a minha expectativa de estudar se foi, pois a minha mãe disse que eu ia cuidar de um bebê de uma família que estava chegando nas redondezas.
Eu pensava: como podem deixar uma criança comigo, se eu tinha 8 anos?
Lembro que por duas vezes deixei o bebê cair e ele ainda não tinha um ano.
Hoje sei que todos os adultos presentes foram irresponsáveis demais, mas talvez a necessidade os obrigasse àquela situação.
Não havia energia elétrica na minha casa e tampouco o meu entendimento sobre a relação entre os meus pais. Lembro de ver eles brigando e do meu pai ficar dias fora de casa, enquanto a minha mãe e os filhos estudavam e trabalhavam.
Com 9 anos comecei a estudar, que alegria! Era uma felicidade ter um caderno, e eu lembro com muita nostalgia do cheiro deles.
Logo veio mais uma mudança de sítio. Ter que fazer amigos constantemente era complicado, e eu fazia um esforço para ser legal o tempo todo, para ser aceita nos novos grupos.
Nessa nova moradia tinha pés de frutas, gado, canavial e iríamos cuidar de plantação de cana. Naquele ano a seca castigou e lembro do gado morrendo no pasto, do poço d'água seco e que tínhamos que buscar água muito longe, em outro sítio que tinha poço artesiano. A nossa sobrevivência foi caldo de cana, melaço e rapadura. Não tinha comida: passamos fome e até sede.
Fomos então para outro lugar, dessa vez feio, triste e amedrontador.
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Hoje olho ao redor e reconheço: estou em casa. As plantas que convivem comigo, os objetos que eu mesma fiz, a decoração que eu imaginei. É uma casa diferente por ter sido feita pelas minhas mãos, com as cores e as formas que escolhi. Não outra pessoa, mas eu. E a casa é exatamente como a minha história recente.
Fui casada algumas décadas com um homem muito sagaz. Ele administrava bem as finanças da casa e era um pai amoroso. Com os amigos e as pessoas de fora ele era alegre e de boa convivência.
Comigo, porém, era tudo diferente. Nem toda hora, nem todo dia, mas com frequência e firmeza, ele me colocava no meu “lugarzinho”. De esposa, de cuidadora da casa, de funcionária das atividades familiares, de mãe que arca com tudo dos filhos.
E se por algum motivo ele acordava mau humorado, era a mim que ele responsabilizava pelo mau humor que sabe-se lá de onde vinha. Reclamava do artesanato que eu gostava de fazer, me tratava de forma grosseira, sem tato ou delicadeza e me fazia pensar que os erros que surgiam em nossa convivência eram meus, que quem devia pedir desculpas era eu.
E eu pedia. Pedi desculpas por muitos anos. Por coisas que não eram de minha responsabilidade. Outro dia ouvi num outro podcast uma imagem que me representou bem: alguns homens fazem uma manobra perversa e nos colocam no fundo do poço só para parecem salvadores ao estenderem a mão. Era bem a estratégia dele. Até namorada fora do casamento ele arrumou. Chegamos a nos separar, mas eu o aceitei de volta, como quem aceita as regras impostas.
Nossa vida foi essa. Meu filho mais velho presenciou vários momentos em que eu era tratada com desdém, sendo diminuída e apagada. Isso nos machucou muito. E nosso dia a dia foi se dando assim até que eu percebi que essa minha história não era minha.
Não era eu com quem o meu parceiro tomava as decisões, mas era ele quem decidia por nós, pela família. Ao casar estava prestes a viver um relacionamento tóxico – só não sabia. Não sabia porque ainda estava para acontecer, mas também porque essa palavra ainda não existia para mim.
E então, aos quase 60 anos, eu resolvi começar uma nova história. De outra forma, em outro lugar. Uma história com outras palavras que eu mesma quisesse dizer. E saí de casa, fui para um lugarzinho meu, com alguma dificuldade. Nós tínhamos uma situação financeira muito boa, mas isso acabou ficando menos importante quando eu pensava em que vida queria para mim.
E aí veio outra surpresa. Logo fui diagnosticada com câncer de mama e foi muito complicado. Muito doloroso. Apesar de ter sido um câncer relativamente bonzinho, eu tive que fazer radioterapia e quimioterapia. Isso tudo morando sozinha. Foi bem difícil, mesmo com o meu filho mais velho morando perto.
Mas não foi ruim, não, viu? Foi melhor do que se eu tivesse acompanhada. Eu estava em casa, na minha casa. Imagina a diferença? Estar passando por uma doença tão forte como o câncer e preferir estar sozinha? Essa diferença é gritante, mas foi ela quem me fez outra mulher. Muito mais feliz, muito mais segura e decidida – decidida de mim.
Hoje, olhando para trás, vejo que houve um momento fundamental que é o que eu queria deixar como sugestão para quem está passando por um relacionamento tóxico ou abusivo: procure uma profissional da psicologia e se prepare financeiramente para ganhar sua liberdade.
Quer dizer, você vai ter um suporte profissional para que você entenda que os seus desejos e o seu modo de viver não são errados. Que as suas escolhas também importam e que você é uma mulher inteira, que não precisa do outro para se sentir bem e feliz.
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Lembrando que o Podcast Sozinha de si é um projeto de acolhimento através de histórias anônimas, manda a sua história pra mim: [email protected]
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A história começa em 1989, quando conheci o meu ex-marido. Éramos muito jovens e foi amor à primeira vista. Namoramos por 2 anos e decidimos nos casar, com tudo o que tínhamos direito: igreja, festa e lua de mel. Achei que seria para sempre, sabe aquele "até que a morte nos separe”?Logo nos primeiros meses ele já mostrava traços de abusador: tinha muito ciúmes e controlava demais a minha vida. Deixei de ver os meus amigos e a minha vida passou a ser só dele.Tivemos nosso primeiro filho com 2 anos de casados, ele me fez largar o meu emprego e a nossa relação só piorou. Sempre acontecia um empurrão, ou um tapa, mas a primeira agressão física mais forte dele aconteceu no ano em que meu filho nasceu.A gente comprava galão de água e na minha casa não tinha campainha. O rapaz que foi entregar a água em casa gritou o meu nome no portão e isso bastou para o meu marido fazer um escândalo. Ele abriu a janela, gritou com o moço e mandou ele embora.Quem você acha que é para gritar o nome da minha esposa no meio da rua?Na sequência ele puxou os meus cabelos a ponto de arrancar. Lembro de ficar pegando no chão os chumaços de cabelo que ele tinha arrancado de mim. Ele me bateu na barriga, na cabeça, nos braços, e nas pernas. Eram socos e pontapés, a ponto de eu não aguentar mais e pedir: "Pára de bater nessa perna, bate na outra, por favor." Eu fiquei arrasada e não sabia que atitude tomar. Mas a gente sempre acha que tudo tem uma solução, né? Eu pensava “um dia ele muda”, e o meu filho era pequeno.Pedi ajuda para minha família, pois não tinha a intenção de me separar. Com muita conversa ele me pediu desculpas, e aquele blá-blá-blá todo, e assim continuamos juntos, mas os abusos não tiveram fim. Eu era humilhada quase sempre. Ele dizia "olha como você está gorda, não se cuida, como vou ter tesão em você?” Assim ficamos um ano sem ter relações sexuais depois que meu filho nasceu. Eu me sentia a pior mulher do mundo. Ele não me deixava frequentar uma academia. Eu só podia ir ao salão de beleza com a sua autorização e tinha que andar com o celular pendurado no pescoço, porque se ele ligasse eu não tinha desculpas para não atender.Minha vida era um inferno, eu não tinha voz para nada, nem opinar sobre algum assunto eu podia e sempre tinha que concordar com ele. E assim, mesmo com esses abusos, eu fui levando. Vieram outras agressões físicas e por algumas vezes pensei em acabar com o sofrimento, desejando a morte dele, pois era a única saída que eu via. Para os outros, tínhamos um casamento perfeito, eu tinha vergonha de contar pelo que estava passando e escondia de todos. Anos depois nasceu o meu segundo filho e eu não via perspectiva de mudança.Eles seguia com os abusos psicológicos do tipo "se me denunciar, quem vai te sustentar?” Eu era totalmente dependente dele, que me fazia acreditar que eu não era capaz de viver sozinha.Foram muitos anos de agressões e embora eu já não aguentasse mais, também não tinha forças para sair daquela relação. Foi muito difícil passar por tudo isso sozinha, sem poder contar pra ninguém que a minha vida era um buraco negro. Como eu poderia imaginar, lá trás, que aquele homem por quem me apaixonei seria o meu agressor?Até um dia, uma luz divina me deu coragem e depois de 27 anos de casada, aos 49 anos, eu decidi optar por mim. Dei um basta, pedi a separação e nessa hora o vi chorar feito criança, mas a minha decisão estava tomada e tive total apoio dos meus filhos - que nunca presenciaram uma agressão física mas sabiam que eu vivia em um cárcere chamado LAR. ...[por conta do limite de 4000 caracteres o restante da história está apenas no áudio]Lembrando que o Podcast Sozinha de si é um projeto de acolhimento através de histórias anônimas, manda a sua história pra mim: [email protected]
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- Liberdade condicional -
O ano era 2008, eu tinha 22 e ele 47.
Seis meses depois do primeiro beijo, estava eu me mudando para casa dele.
Abandonei minha vida em Floripa, sai do trabalho e fui com ele para o Rio, o meu estado natal. Demorei para me apaixonar, mas me apaixonei. Venci preconceitos e me abri para vida nova. O começo foi lindo, divertido. A proposta de viajar o mundo, os amigos, jantares, festas, tesão, paixão… Era uma vida perfeita.
Não precisa trabalhar - ele dizia. É tudo nosso! - ele repetia.
O mundo é nosso! - e parecia que era mesmo.
Vamos assinar a união estável para você tirar o visto americano? Vamos! Claro.
Mas união estável com separação total de bens, tá?! Tá bom, claro.
Juras de amor eterno, e confiança cega nele.
Mas no mesmo casamento não pode ter separação total de bens e dependência financeira, porque o resultado disso é um só: CONTROLE.
Sexualmente também fui manipulada. Fui convencida de que seria legal experimentar o que não me interessava: ele era realmente persuasivo.
Fui induzida a transar com outras pessoas, inclusive mulheres - que nunca curti - ex namorada dele, prostituta, e nessas situações eu sempre estava alcoolizada, usando ecstasy ou MDMA. Acho que queria agradá-lo, inconscientemente, só pode ser! Porque para mim não era algo bom. Uma vez ele armou uma viagem para encontrar um amigo dele, que também era meu, e que estava saindo com uma ex namoradinha dele.
Ele forçou a situação e acabamos nós 4 na banheira: eu beijando ela, e sendo acariciada pelo amigo. Se penso nesse dia, me dá ojeriza.
Quando eu engravidei da minha filha, depois de 5 anos de casada, ele ficou puto e jogou um controle remoto na parede. Ficou um mês sem falar comigo.
Depois das crianças, não rolou mais esse tipo de situação ou assunto. Não cabia mais. Acho que até por isso que ele não queria ter filhos.
Depois de quase 15 anos de casamento, 2 filhos paridos em casa, viagens pelo mundo, vem a bomba: eu cresci e não cabia mais ali. Algo mudou em mim e assim acabou a ilusão, o amor exagerado, os presentes, a sedução, a paixão, TUDO nele virou raiva, perseguição, violência, controle, jogos de poder.
Então ficou claro: a minha liberdade só existe quando satisfaz as vontades dele.
Eu até podia transar com outros e outras, mas só se fosse com ele, escolhido por ele, ou na presença dele. Poderia usar roupas sexys, lingeries ousadas, mas só se fosse para ele.
Viajar? Claro! Mas com ele e para onde ele quisesse ir. Enviar mensagens quentes? Só para ele.
No momento que eu decidi que ele não seria mais o centro do meu mundo, a nossa vida em conjunto implodiu e a minha, como eu conhecia, colapsou.
Que ousadia! Uma mulher 25 anos mais nova que seu marido abusador, dependente financeiramente, com 2 filhos para criar… Como pôde ser tão ousada? Quem me dera a minha carta de alforria?
Essa mulher aí precisou juntar muita força e coragem para conseguir se separar.
Talvez ela - eu - já soubesse que seria uma batalha daquelas. Por isso tanto tempo. Por isso a demora. Foi um processo lento e longo, desde o primeiro pensamento sobre o assunto foram 5 anos para me separar. Muitas conversas, e ele sempre em negação, até que peguei as minhas coisas e sai. Fiz um acordo, verbal, de que eu ia sair e deixaria uma casa montada, souvenirs de todos os países que visitamos, fotos, TUDO, e ele me pagaria uma pensão por 2 anos, tempo necessário para eu me reestabelecer profissionalmente. Levei meus filhos comigo, mas depois começamos a intercalar, tempos com o pai e com a mãe.
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De acordo com o dicionário, metamorfose significa mudança: é a transformação de um ser em outro, ou de uma forma em outra.
Na maioria das manhãs, sou despertada do sono pela famosa dor neuropática.
Logo que consigo ficar sentada na cama, procuro imediatamente tomar o meu espinafre do Popeye - como chamo carinhosamente a mistura de remédios que me ajuda todos os dias.
Procurando uma posição para aguardar o processo de metamorfose acontecer, pego o meu celular para ver minhas mensagens, na ilusão de que algum amigo pergunte se ainda estou viva, se eu preciso de colo pra chorar as pitangas.
Nunca tive a pretensão de me fazer vítima, de coitadinha. Só aperto nessa mesma tecla baseado no pensamento do Padre Fabio de Melo “quem vai ficar do nosso lado diante da nossa inutilidade?”
Quando o espinafre (medicação) faz efeito, o processo de transformação é concluído. Pronto, agora posso levantar e começar mais um dia de vários períodos de metamorfoses.
Alguns sintomas motores da doença de Parkinson são rigidez muscular, lentidão, movimentos involuntários e tremores. Existe uma nomenclatura que caracteriza o momento que estamos sob o efeito da medicação (ON) e o momento em que passa o efeito (OFF).
Associei ao processo de metamorfose porque é como se duas pessoas vivessem no meu corpo.
Quando estou no momento ON, consigo ser uma pessoa normal, como se não tivesse a doença. Sinto-me livre. É como andar de bicicleta no calçadão, apreciando a praia, o céu e as árvores. A vida fica cheia de cores com muitas tonalidades. Atualmente, o período ON é de aproximadamente duas horas, então posso sair por esse período e consigo disfarçar, mas se torna uma maratona que tenho que concluir nesse espaço de tempo.
Quando a medicação vai perdendo seu efeito, iniciam-se os movimentos involuntários, e essa transição dura em média 30 minutos. Essa fase causa muito constrangimento quando estou em público, pois não consigo controlar os braços e pernas.
Em seguida, vem a transformação do ON para o OFF, na qual me transformo em um robô idoso, enferrujado e triste. Os movimentos ficam lentos, começam as dores na coluna.
É durante essa fase que me sinto caindo num buraco fundo, no qual a vida se torna vazia , sem cor e sem sentido. Então repito a medicação, que em 30 a 60 minutos faz efeito e me dá um novo respiro, retomando o ciclo de metamorfose.
O Parkinson entrou na minha vida há cerca de 14 anos, desde que recebemos o diagnóstico da minha irmã, que na época tinha 36 anos de idade. O meu diagnóstico foi aos 42 anos, e desde então todo dia sofro.
Acredito que nessa fase dos quarenta, a mulher está num momento de plenitude, pois já está com a vida encaminhada: constituiu ou não família, a sua profissão já está consolidada, e normalmente já tem uma razoável condição financeira.
E eu me sentia assim, plena. Mas a vida me deu uma rasteira tão grande, que fiquei zonza. Fui, porém, fui obrigada a me levantar do tombo.
Não sou uma guerreira, é que a vida me obriga a ser forte. Hoje, não tenho medo de tempestade, mas quando o inverno chega fico apreensiva. Ainda bem que aqui no nordeste não esfria tanto.
Conviver com a doença não é fácil, mas é possível, apesar das limitações e constrangimentos, ainda consigo viver a experiência de contemplar um por do sol, valorizar um passo, um movimento voluntário, uma boa leitura e me tornar grata por tudo.
Sim, por tudo, porque tenho uma certeza nessa vida: tudo é efêmero e não viemos aqui para passar férias. É necessário passar pela prova, mesmo sem saber do conteúdo a ser estudado.
A vida é incrível, talvez pelo simples fato de que não sabemos o que irá acontecer daqui a um minuto: repentinamente a nossa vida pode sofrer uma transformação drástica, ou surpreendentemente maravilhosa. Assim é a nossa existência humana.
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