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Depois da nossa conversa, Nilton Resende me mandou o áudio que vocês ouvem no início do episódio. Pedia para complementar o que havia dito há pouco, no papo que batemos sobre “As Meninas”, um dos grandes livros de Lygia Fagundes Telles.
Professor de Literatura da Universidade Estadual de Alagoas, há décadas que Nilton se debruça sobre a obra de Lygia. Dessas pesquisas que nasceu a admirável edição crítica de “As Meninas” que acaba de sair pela Eduneal.
É um tijolo de quase mil páginas que, além do romance em si, traz mudanças pelas quais o texto de Lygia passou conforme a autora o retrabalhava em novas edições, uma espécie de guia cultural para compreender o universo construído pela escritora e ensaios assinados por gente como Maria Valéria Resende, Tamy Ghannam, Natalia Borges Polesso e a chilena Andrea Jeftanovic.
No volume o leitor ainda encontra um perfil de Lygia, a cronologia de “As Meninas”, material sobre a publicação da obra no exterior… É um trabalho singular que marca os 50 anos de publicação do romance.
Também diretor de teatro, roteirista e escritor, são de Nilton os livros “O Orvalho e os Dias”, de poemas, “Diabolô”, de contos, e o romance “Fantasma”. Sobre a autora que está no centro deste episódio, já tinha organizado e publicado “A Construção de Lygia Fagundes Telles: Edição Crítica de Antes do Baile Verde”.
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A conversa que vocês ouvirão a seguir foi gravada um dia depois da Academia Sueca anunciar o Nobel de Literatura de 2024 para a sul-coreana Han Kang.
Não, não acreditava que o prêmio poderia ir para o argentino César Aira.
Torcia para ele, sim, para que um autor deste nosso canto do mundo fosse reconhecido, mas minha torcida não tem valido grandes coisas já faz um bom tempo. O São Paulo está aí para provar.
Com prêmio ou não, a relevância do trabalho de Aira é o que me levou a convidar Carlos Henrique Schroeder para um papo.
O Carlos é autor de livros como “As Fantasias Eletivas”, “História da Chuva” e “Aranhas”, seu trabalho mais recente. Grande leitor e muito interessado em literatura latino-americana, é um cara que conhece bastante da obra de Aira.
Não só isso. Como curador de eventos literários, já teve a chance de conviver com o argentino. Ele contará essa história no papo.
Falamos também sobre as peculiaridades do trabalho de Aira, autor de rara liberdade, dono de uma obra de facetas bastante diversas. E vasta. Já são mais de cem livros publicados.
No Brasil, Aira já saiu por algumas editoras. Quem neste ano começou a publicar parte de seus livros é a Fósforo, que lançou “O Vestido Rosa”, “A Prova”, “Atos de Caridade” e “O Congresso de Literatura” e promete colocar no mercado pelo menos mais 12 títulos do argentino.
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Quais são os autores que lhe vem à cabeça quando falamos de literatura italiana contemporânea?
Tá, eu sei em quem muitos de vocês pensaram. Sim, Elena Ferrante é um nome incontornável. Falaremos sobre ela nesta edição do podcast. Mas iremos muito além de Elena.
A Maria Carolina Casati é uma leitora que acompanho há algum tempo. Dentre suas iniciativas está a Encruzilinhas, que discute textos sobre negritude, gênero, feminismo e militância.
A Carol está terminando seu doutorado na USP, onde desenvolve o projeto "A mulata brasiliana: escrevivência, narrativas orais e memórias de brasileiras negras na Itália que se relacionam com italianos".
A partir de conceitos de gente como Conceição Evaristo que a pesquisadora se debruça sobre a atual literatura italiana, especialmente sobre a obra de Igiaba Scego.
Igiaba é o ponto de partida para essa conversa não só sobre autores italianos que merecem a sua atenção, mas também sobre muitas questões relacionadas ao país de Dante.
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“Em tempos de fanatismo, deixar uma porta de sabedoria entreaberta; em tempos de polarização, explorar o que há de comum entre nós; em tempos de intolerância, falar de coisas de humanidade... Em tempos de ódio, ser teimoso mas manter o bom humor perante as adversidades. E contar histórias, porque as histórias trazem consigo muita coisa agarrada. As histórias – e a memória das nossas histórias – são, afinal, o que faz de nós humanos”.
Esse trecho de “Agora, Agora e Mais Agora” (Tinta da China Brasil) parece ser uma boa definição para o que Rui Tavares faz no trabalho que primeiro deu origem a um podcast durante a pandemia e, pouco depois, virou um livro que acaba de ser publicado no Brasil.
Em “Agora, Agora e Mais Agora”, Rui percorre mais de mil anos para mostrar como alguns grandes seres humanos se portaram em momentos bicudos de nossa história.
Ao se debruçar sobre Al Farabi, por exemplo, lembra de uma espécie de iluminismo perdido do Oriente capaz de se opor a fanatismos diversos.
Historiador e político, hoje deputado na Assembleia da República de Portugal e vereador na Câmara Municipal de Lisboa, Rui olha para o passado e estabelece pontes com enrascadas que vivemos no presente.
A distância entre um pensamento mais urbano e cosmopolita de outro mais rural e conservador – e aqui faço uma simplificação canhestra – não parece muito diferente das rusgas que tínhamos entre guelfos e gibelinos na península itálica ali pelo século 12.
É entre filósofos e escritores, acima de tudo grandes humanistas, que Rui transita para criar ensaios – ou memórias, como prefere chamar – nos quais a cultura, a tolerância e sabedoria aparecem como elementos fundamentais para a construção da ideia que fazemos de humanidade e de ser humano.
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A ilustração usada na arte deste episódio foi feita por Eduardo Viana. -
“Mrs. Dalloway disse que ela mesma iria comprar as flores”.
Temos aqui um dos começos mais célebres da literatura na tradução de Claudio Alves Marcondes.
Clarissa Dalloway compraria flores em algum canto daquela Londres de um século atrás para a festa da noite.
É esse dia na vida da personagem que está em “Mrs. Dalloway”, um dos principais romances da língua inglesa e o mais famoso de Virginia Woolf.
Autora também de obras como “Orlando”, “Ao Farol” e “As Ondas”, Virginia é uma das gigantes da literatura no século 20.
Nome incontornável do modernismo, essa britânica que nasceu em 1882 e morreu em 1941 costuma ser lembrada pela forma como explora a consciência de seus personagens.
Há quem se intimide diante dos romances de Virginia. Mas não tenhamos medo.
A ideia do papo com Mell Ferraz é mostrar caminhos para se entender com a obra da autora.
Mell é formada em estudos literários pela Unicamp e mestre em estudos da literatura pela Universidade Federal Fluminense, onde fez pesquisas sobre o fluxo da consciência na obra de Virginia Woolf.
Desde 2010 que a Mell toca o Literatura-se, canal de incentivo à leitura e à literatura que está no Youtube e em outras redes sociais.
As marcas da escrita da Woolf, a mulher por trás da artista e outras vertentes de sua obra, como a Virginia ensaísta, também foram assuntos da nossa conversa.
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“Se toparmos um leve exagero e aceitarmos que a leitura é uma experiência suavíssima de alucinação, nos perguntamos: quantas vezes nós, mulheres, alucinamos ser homens? E que espécies de aventura – muitas delas interditas a nós na vida real – vivenciamos na pele virtual deles? Por meio da nossa imaginação, homens ficcionais existem, e carregam efeitos dessa existência para nossas vidas concretas”.
Retiro o trecho da apresentação de “O Homem Não Existe”, livro que a pesquisadora, doutora em literatura, professora e crítica literária Ligia Gonçalves Diniz acaba de publicar pela Zahar.
O livro é um longo ensaio no qual Ligia mostra ao leitor como busca compreender e, de alguma maneira, vivenciar a masculinidade por meio da ficção.
Sexualidade, raiva e beleza (ou feiura) são alguns dos assuntos pelos quais a autora passa enquanto se debruça sobre obras de autores como Albert Camus, Philip Roth, Roberto Bolaño, Herman Melville, Dante, Graciliano Ramos e Homero.
Mas nem só de homens se faz a bibliografia de Ligia. Estão por lá autoras como Susan Sontag, Anne Carson e Audre Lorde.
Indo além das letras, há acenos improváveis a músicas de grupos como Art Popular e Engenheiros do Hawaii ou a filmes como “Crepúsculo”.
“O Homem Não Existe” também é uma argumentação sobre viver outras experiências por meio da arte.
Conversei com Ligia a respeito desse deslocamento numa época em que tantos buscam por espelhos no papo que vocês ouvirão a seguir. Os amores proibidos, as paixões assumidas e a relação entre obra, autores e leitores também foram assuntos da nossa conversa.
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Quais são as obras e os autores que você conhece da literatura árabe?
Sim, eu sei que “As Mil e uma Noites” veio à cabeça. Mas tentemos ir além do clássico.
Para conversar sobre essa tradição literária, ou as tradições irmanadas por uma língua em comum, que convidei Safa Jubran para o papo desta edição do podcast.
Safa é libanesa e vive no Brasil desde a juventude. Pesquisadora e professora as USP, é um dos grandes nomes no país quando o assunto é cultura árabe.
Como tradutora, Safa verteu para o português autores importantes da literatura árabe contemporânea.
Coube a ela passar para a nossa língua títulos como “Porta do Sol”, do libanês Elias Khoury. “Tempo de Migrar para o Norte”, do sudanês Tayeb Salih. “Homens ao Sol”, do palestino Ghassan Kanafani. “Damas da Lua”, de Jocka Alharthi, autora do Omã que venceu o Internatiuonal Booker Prize em 2019. E “Detalhe Menor”, romance que em outubro fez sua autora, a também palestina Adania Shibli, ser alvo de uma truculência promovida pela Feira do Livro de Frankfurt.
Conversamos a respeito disso no papo que vocês ouvem a seguir.
A conexão entre arte e política, a diversidade dessa literatura e caminhos para quem quer começar a conhecê-la melhor também são assuntos desse papo com Safa.
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Crédito da imagem usada na arte do podcast: Jebulon, Public domain, via Wikimedia Commons. -
Livros clássicos. Eis um assunto que perambula pela cabeça de praticamente todos os leitores.
Mas como lidar com essas obras que fundamentam o que entendemos como produção artística de qualidade?
Como encará-las sem subserviência ou aplausos fáceis? Como confrontá-las com olhares contemporâneos? Quais são os papéis e os direitos de qualquer leitor? Novas leituras, leituras não canônicas, digamos, também são permitidas.
Afinal, como lidar com os clássicos?
É a pergunta que norteia esta edição do podcast.
A conversa é com Amara Moira, doutora em teoria e crítica literária pela Unicamp. “Ulysses”, de Jamos Joyce, foi o livro estudado em sua tese. É um dos clássicos fundamentais no nosso papo e na caminhada de Amara com a literatura.
Autora de “E Se eu Fosse Puta” (n-1 edições) e de “Neca + 20 Poemetos Travessos” (O Sexo da Palavra), foi Joyce que deu uma força para que Amara pudesse ter as próprias ousadias com a linguagem em sua literatura.
Sim, também falamos sobre a importância dos clássicos para a produção contemporânea.
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Jiro Takahashi é um dos maiores nomes da história do mercado editorial brasileiro.
Já faz quase 60 anos que Jiro se dedica à edição de livros.
Nessas décadas, passou por editoras como Ática, Nova Fronteira, Ediouro, Editora do Brasil e Global, além de ter sido um dos fundadores da Estação Liberdade.
Muita gente fundamental na literatura brasileira passou pelas suas mãos. Clarice Lispector e Carlos Drummond de Andrade, por exemplo. Murilo Rubião, um dos meus favoritos, foi revelado num dos muitos trabalhos de Jiro. Ele fala sobre o peculiar autor de “O Pirotécnico Zacarias” no papo a seguir.
Jiro costuma ser lembrado sobretudo pelas coleções que ajudou a criar. Ele é uma das cabeças por trás de tesouros da história literária brasileira, como a Nosso Tempo, a Para Gostar de Ler e sobretudo a Coleção Vaga-Lume.
Sim, também conversamos sobre bastidores dessa série de livros pensados para jovens que até hoje mexe com as melhores lembranças de muitos leitores.
No começo de maio, Jiro Takahashi recebeu o troféu Contribuição ao Mercado Editorial do Prêmio PublishNews. É mais um reconhecimento pela admirável carreira.
O papel de um editor, os caminhos para a formação dos leitores e alguns dos livros fundamentais da vida de Jiro também foram assuntos da nossa conversa.
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**A foto de Jiro usada na arte do podcast foi feita por Jedson Santos para o Publishnews -
Já faz alguns anos que temos visto o preço do livro subir bastante.
Inflação, alta do dólar e preço internacional do papel são alguns dos elementos que ajudam a explicar esses aumentos.
A recuperação de um preço represado por muitas editoras durante longos anos e toda a complexa cadeia de profissionais envolvidos direta ou indiretamente na produção de qualquer livro são outros pontos que precisamos ter em mente.
Sei que essa é uma questão que aflige muitos leitores. Sei também que são muitos os editores que gostariam, de verdade, de oferecer um produto mais barato. Custos e, consequentemente, preços, no entanto, não dependem apenas de nossas vontades.
Para conhecer melhor o que está por trás do preço que pagamos num livro que convidei Nathan Matos para um papo.
Nathan é o fundador da editora Moinhos, um dos editores da Moby Dick, especializada em quadrinhos, e há 20 anos toca o Literatura Br, espaço na internet dedicado aos livros que em 2021 também virou um podcast.
Espero que a conversa ajude a deixar mais claro tudo o que está por trás dos preços que encontramos pelas livrarias.
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De que forma a literatura molda aquilo que entendemos como realidade?
Essa é uma pergunta que atravessa os ensaios de “Sobre Literatura e História – Como a Ficção Constrói a Experiência”, livro que Júlio Pimentel Pinto acaba de publicar pela Companhia das Letras.
Júlio é professor no departamento de história da Universidade de São Paulo e pesquisa há quase 40 anos a relação entre nosso passado e a ficção, com um olhar especialmente dedicado à América Latina.
Não surpreende que nesse novo livro se debruce sobre a obra de nomes como Juan Carlos Onetti, Milton Hatoum, Octavio Paz e principalmente Jorge Luis Borges e Ricardo Piglia, suas obsessões.
Júlio também é autor de títulos como “Uma Memória do Mundo” (Estação Liberdade) e “A Pista & a Razão” (e-galáxia).
Na apresentação de “Sobre Literatura e História”, escreve:
“Ficção e história não são a mesma coisa. Uma não substitui a outra, até porque precisamos de ambas para interpretar o passado, para pensar sobre o presente, para inventar o futuro”.
É o que está no centro do papo que batemos.
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Uma enrascada: a vontade de ler, conhecer novos autores e se aprofundar em determinadas literaturas é sempre muito maior do que o tempo que temos para explorar todos os universos que desejamos.
Boa parte dos leitores também sofre com isso, eu sei.
A literatura japonesa está entre aquelas que eu gostaria de dar mais atenção. Seria legal ir além dos autores que já curto, como Yukio Mishima e Yoko Ogawa.
Para compreender um pouco melhor a literatura japonesa contemporânea que convidei Rita Kohl para uma conversa.
Rita é tradutora que já verteu para o português nomes como Sayaka Murata, autora de “Querida Konbini” e Haruki Murakami, eterno candidato ao Nobel de Literatura. Murakami é um dos assuntos do nosso papo.
Outro livro traduzido por Rita é “Museu do Silêncio”, um dos meus favoritos de Yoko Ogawa.
Também pesquisadora, Rita é formada em letras pela USP e fez mestrado no Departamento de Literatura Comparada e Cultura da Universidade de Tóquio.
O interesse pela cultura japonesa, alguns nomes atuais dessa literatura que merecem a atenção do leitor e particularidades de verter para o português um idioma tão distante do nosso também são assuntos do nosso papo.
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No dia 17 de abril a morte de Gabriel García Márquez completará dez anos.
A data foi a deixa para pensar num papo dedicado exclusivamente ao colombiano.
Digo exclusivamente porque falamos bastante sobre ele num outro episódio do podcast, o 76, quando entrevistei Eric Nepomuceno, tradutor e amigo pessoal de Gabo e de outras grandes figuras da literatura.
Vencedor do Nobel de 1982 por conta do mundo que criou, onde fantástico e real se misturam, García Márquez dispensa apresentações.
Dentre seus muitos livros de sucesso estão “O Amor nos Tempos do Cólera”, “Ninguém Escreve ao Coronel”, “O Outono do Patriarca” e “Relatos de um Náufrago”, este um exemplo da qualidade de seu jornalismo.
E temos também, é claro, “Cem Anos de Solidão”, um dos maiores romances de toda a história. Impossível separar o nome de Gabo da saga vivida por gerações da família Buendía em Macondo.
Para conversar sobre Gabo, convidei Miguel Sanches Neto, leitor do colombiano há mais de quatro décadas.
Também escritor, Miguel assina títulos como “A Segunda Pátria”, “Chá das Cinco com o Vampiro”, “Um Amor Anarquista”, “O Último Endereço de Eça de Queiroz” e “Herdando uma Biblioteca”. Além disso, é crítico literário, doutor em Letras e é reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
A relação de Miguel com a obra do colombiano, os caminhos para quem quiser descobrir o trabalho de Gabo e as impressões sobre o livro póstumo do autor, o recém-lançado “Em Agosto nos Vemos”, são alguns dos assuntos da nossa conversa.
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De cara, a ideia era bater um papo sobre literatura infantil e juvenil com Jim Anotsu, mas vocês verão que a conversa que tivemos não se limita aos livros pensados para uma idade ou outra. Ideia, aliás, questionada por Jim.
Jim estudou Literatura Inglesa na Universidade Federal de Minas Gerais e hoje atua em diversas frentes da escrita. Como tradutor, verteu para o português nomes como Kipling e Agatha Christie.
É autor de títulos como “A Batalha do Acampamonstro”, que saiu pela Nemo, e “O Serviço de Entregas Monstruosas”, publicado pela Intrínseca. Com esse segundo, foi finalista do Jabuti em 2022 na categoria juvenil e venceu o CCXP Awards de Melhor Livro de Ficção.
Roteirista, trabalha numa nova versão de Sítio do Picapau Amarelo. Sim, o que fazer e como lidar com Monteiro Lobato nesta altura de nossa história foi outro assunto da entrevista.
Jim ainda explica a sua reticência com o trabalho de gente consagrada, como Pedro Bandeira e Ruth Rocha, conta como a literatura foi crucial em sua vida e defende que o leitor, independente da idade, jamais seja subestimado.
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Começamos um ano com um papo sobre um autor controverso.
Charles Bukowski nasceu na Alemanha, mas aos dois anos rumou para os Estados Unidos.
Com histórias marcadas por penúrias sociais, sexo (ou desejo de sexo) e muito álcool, virou sinônimo de escritor maldito.
Sua obra é vasta, composta por mais de 40 livros. Bukowski foi poeta, contista e romancista.
Na prosa, colocou muito de si em Henry Chinaski, seu alter ego. Ao pensar no escritor, é até difícil de saber quanto que projetamos da criatura em seu criador.
Bukowski influenciou e ainda influencia uma gama enorme de escritores, especialmente jovens. Mas não que seus textos vivam um momento tranquilo.
O machismo e a misoginia que transbordam de suas páginas são características que fazem com que muitos leitores repudiem essa obra.
Como ler Bukowski aqui, em 2024, 30 anos após a sua morte?
Essa é a pergunta central do papo que bati com Lara Berruezo, editora da Harper Collins, casa que há alguns meses começou a trabalhar com novas edições de Bukowski no Brasil.
Os romances “Pulp”, “Hollywood” e “Factótum”, a coleção de contos “Corro com a Caça”, a reunião de poemas “Andar na Água, Afundar no Fogo” e as cartas de “Sobre a Escrita” são alguns dos livros que já chegaram às livrarias nesse recente trabalho da Harper Collins.
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Ao longo da minha caminhada, Milton Hatoum certamente foi uma das pessoas que mais entrevistei. Ele é autor de obras centrais de nossa literatura recente, como “Dois Irmãos” e “Relato de um Certo Oriente” (Companhia das Letras).
Fazia tempo que não batia um papo com o Milton, por isso que o convidei para a última edição deste ano do podcast. Sim, farei a habitual pausa de final e começo de ano. Devo voltar lá por fevereiro.
Alguns livros de Milton estão ganhando uma nova roupagem. É o caso de “Cinzas do Norte”, ponto de partida do papo. Mas depois a conversa tomou outros caminhos.
Falamos muito sobre as leituras de Milton. A respeito de clássicos como Flaubert, Balzac, Virginia Woolf e Graciliano Ramos. E também de contemporâneos como José Falero e Adania Shibli. Livros não lidos e a alegria de poder ser leitor de certos monumentos.
O Nobel e a forma como muitas vezes ignoramos grandes autores da África e da Ásia. A minúcia na hora da escrita. As razões para escrever e o ceticismo com a própria obra. E, sim, a previsão para o terceiro volume da trilogia autobiográfica “O Lugar Mais Sombrio”.
Tudo isso fez parte da entrevista, que contou com grande colaboração dos ouvintes da Página Cinco.
A foto de Milton usada na arte do podcast foi feita por Wanezza Soares.
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Em outubro, a cidade de Chengdu recebeu a edição 81 da WorldCon, principal convenção de ficção científica do mundo. Foi a primeira vez que o evento aconteceu na China. E Ana Rüsche, escritora e pesquisadora brasileira, esteve lá.
Saber o que se passou nesse encontro de entusiastas da ficção científica serviu como desculpa para convidar Ana para o papo que vocês ouvirão a seguir. O problemático domínio do inglês no setor, o português como língua exótica e as discussões desse nicho da literatura são alguns dos assuntos da conversa, que aconteceu antes do imbróglio da categoria Ilustração do Prêmio Jabuti.
Digo isso porque também passamos pelos debates sobre inteligência artificial, mas sem imaginar que o assunto dominaria as atenções quando a lista de semifinalistas do Jabuti foi divulgada.
Ana é autora dos romances “Acordados” (Amauta), “Do Amor – O Dia em que Rimbaud Decidiu Vender Armas” (Quelônio) e A Telepatia São os Outros” (Monomito). Também produz contos, poesia e traduções.
Doutora em Letras com uma pesquisa sobre utopia, feminismo e resignação em obras de Margaret Atwood e Ursula Le Guin, em seu pós-doutorado na USP Ana se debruça sobre como a ficção científica interpreta a mudança climática.
Os caminhos atuais dessa literatura, a relação entre a produção brasileira e seus pares latino-americanos e livros para quebrar certo preconceito de quem não dá tanta bola para a ficção científica também fizeram parte da nossa conversa.
A pintura usada na arte desta edição do podcast é de Salvador Dalí.
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*** O conto de Gabriela Damián Miraete mencionado por Ana: https://mafagaforevista.com.br/aves-migratorias-002/ -
“O futuro da língua portuguesa será brasileiro e africano: trocando por miúdos, o futuro da língua portuguesa será preto”. É o que crava Kalaf Epalanga em “Pretuguês”, texto que fecha “Minha Pátria é a Língua Pretuguesa” (Todavia).
O livro carrega no título uma homenagem à filósofa e antropóloga Lélia Gonzales, que cunhou o termo “pretuguês”, o português marcado pela influência de idiomas de origem africana.
“Minha Pátria é a Língua Pretuguesa” é uma reunião de 55 crônicas antes publicadas por Kalaf nos livros “Estórias de Amor Para Meninos de Cor” e “O Angolano que Comprou Lisboa (Por Metade do Preço)”, no jornal Rede Angola e na revista Quatro Cinco Um.
Essa relação com a língua fez parte, claro, da conversa que vocês ouvirão a seguir. Também papeamos sobre a dificuldade de circulação da literatura africana, a falta de um diálogo direto mais intenso entre o Brasil e países como Angola e Moçambique e como o autor trata das questões raciais em diferentes gêneros.
Angolano, Kalaf é autor do romance “Também os Brancos Sabem Dançar”, publicado por aqui em 2018. Gravamos enquanto o escritor estava em Nova York, após uma passagem por Acra, capital de Gana.
Na hora da dica de leitura, Kalaf abriu sua mala e compartilhou uma série de recomendações que ainda não saíram no Brasil. Deixo o alerta para os editores que acompanham o podcast: deem uma boa atenção a essa parte do episódio.
Parte dos livros indicados por Kalaf: “As Madames”, de Zukiswa Wanner, “The Deep Blue Between”, de Ayesha Harruna Attah, “Maceration”, de Jay Kophy, “Azúcar”, de Nii Ayikwei Parkes, e “For What Are Butterflies Without Their Wings”, de Troy Onyango.
A foto de Kalaf usada na arte do podcast foi feita por Sara de Santis.
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Uma igreja que ressurgiu após ficar mais de 40 anos soterrada sob a areia. Um ritual do povo Tremembé. Uma crônica de Carlos Drummond de Andrade publicada em 1946 e descoberta num momento decisivo para a autora. As cidades portuguesas que dividem um mesmo nome. Um personagem emprestado de outro escritor, o angolano José Eduardo Agualusa.
São elementos que ajudaram Socorro Acioli a encontrar a história que conta em “Oração Para Desaparecer” (Companhia das Letras). Esse é o primeiro romance que Socorro lança desde “A Cabeça do Santo”, livro de 2014 que aos poucos foi conquistando uma quantidade enorme de admiradores.
No novo trabalho, do lado de lá do Atlântico nós temos Cida, mulher que busca construir uma nova vida num lugar desconhecido. Do lado de cá temos Joana, ainda viva nas amorosas lembranças de Miguel. “Oração Para Desaparecer” é uma história sobre identidade, religiosidade ou misticismo e, claro, amor. É também uma obra sobre as histórias que nos constituem.
Escritora que estudou com Gabriel García Márquez, Socorro costuma ser apontada como uma herdeira brasileira do realismo mágico. Também falamos a respeito disso no papo que vocês ouvem agora.
A foto de Socorro usada na arte do podcast foi feita por Igor de Melo.
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Rogério Pereira tem um plano bem demarcado para a sua carreira como romancista. Em 2013, quando tinha 40 anos, lançou “Na Escuridão, Amanhã”. Publicada pela finada Cosac Naify, a obra foi bem recebida pela crítica e chegou à final do Prêmio São Paulo de Literatura.
Agora aquele romance de estreia volta às livrarias junto com o segundo livro de Rogério no gênero: “Antes do Silêncio”, ambos publicados pela Dublinense. Nesse novo o leitor acompanha o protagonista às voltas com a reta final da vida de sua mãe.
Chama atenção como Rogério consegue dar uma forma literária bem crua para os momentos mais duros. Sabe também erguer narrativas com personagens para os quais a enxada é sempre mais importante do que o lápis, pelo menos nos momentos espinhosos da vida.
Esse drama materno em “Antes do Silêncio” é entrecruzado por um sobrevivente do Holocausto obcecado pela leitura de um dos livros mais impactantes do século 20: “É Isto um Homem?”.
Junto com os porcos, como conversamos no papo que vocês ouvirão a seguir, a obra do italiano Primo Levi é outra das obsessões de Rogério, jornalista que em 2000 fundou o Rascunho, um dos jornais literários mais longevos de nossa história.
Por lá que, aliás, publica crônicas que recentemente renderam um outro livro, “Toda Cicatriz Desaparece”, organizado por Luiz Ruffato e publicado pela Maralto.
A foto de Rogério usada na arte do podcast foi feita por Renata Sklaski.
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